Assim como a revolução burguesa tem grande significado para a constituição da sociologia na Europa, a desagregação do regime escravocrata e senhorial tem para o desenvolvimento da sociologia no Brasil.
Foi graças à abolição dos escravos que se formou uma nova mentalidade na inteligência brasileira, criou um novo horizonte intelectual menos intolerante e conservador com uma autonomia do pensamento racional no sistema sociocultural, totalmente vinculado com aquele processo social. Essa limitação pode-se notar, são frutos da própria sociedade brasileira.
Por um lado os efeitos da secularização das atitudes, do modo de conceber o mundo, que ficaram restritos as populações das cidades com maior desenvolvimento urbano.
Por outro lado a desagregação do sistema escravocrata e senhorial operou como uma revolução social que afetou a ordem econômica, jurídica e política, que não recompôs de imediato a estrutura social.
Os obstáculos culturais que impediram a aceitação da sociologia no passado existiam em diversas áreas, em especial nas regiões rurais mais isoladas e nas cidades com pouco desenvolvimento urbano. A formação do pensamento histórico sociológico no passado não tinha influencia de pensamentos intelectuais suficientes para uma análise sistemática do presente, tanto na teoria quanto na prática.
A evolução do sistema de classes sociais assumiu, no Brasil, os padrões dinâmicos de um desenvolvimento desigual, heterogêneo e de ritmo instável. Somente nas regiões em que a expansão urbana e a industrialização aceleram o processo é que a divisão do trabalho e a diferenciação social se fizeram sentir com alguma intensidade. Nessas regiões ocorram alterações simultâneas na organização social e na cultura, que condicionaram a transformação da sociologia em uma especialidade. (Fernandes, 1976, P. 36).
A referência do estudo de Florestan Fernandes é a cidade de São Paulo que estava em processo de adiantamento e desenvolvimento de uma nova mentalidade, diversos fatores econômicos culturais e sociais, tendem a se ajustarem as novas condições sociais.
É a cidade de São Paulo que tem condições para o desenvolvimento do pensamento racional e a investigação científica, pois é através desses fatores que a sociedade brasileira se reconstrói cultural e socialmente.
Para o autor o desenvolvimento autônomo do pensamento racional de investigação científica da sociedade brasileira, é produto das próprias transformações da vida social, que se originou no regime de classes sociais, com as mudanças da concepção de mundo, a industrialização e com a democratização que garantem os direitos sociais.
É de Marx a observação tão justa e comprovada por todo o decorrer da história, que os problemas sociais nunca se propõem sem que, ao mesmo tempo, se proponha a solução deles que não é, nem pode ser forjada por nenhum cérebro iluminado, mas se apresenta, e aí há de ser desvendada e assinalada, no próprio contexto do problema que se oferece, e na dinâmica do processo em que essa problemática se propõe. (Caio Prado, 1996, P.15).
REFERÊNCIAS
COHN, Gabriel (2002) A integração do negro na sociedade de classes. In: Mota, Lourenço Dantas (org.). Introdução ao Brasil: um banquete de nos trópicos. São Paulo, Senac. Vol. 2
_______________ A revolução burguesa no Brasil. In: Mota, Lourenço Dantas (org.) Introdução ao Brasil. São Paulo, Senac. Vol. 1
FERNANDES, Florestan – A Sociologia no Brasil: Contribuição para o estudo de sua formação e desenvolvimento. Petrópolis, Vozes, [1976]
PRADO, JÚNIOR. Caio – A Revolução Brasileira. Brasiliense, São Paulo, [1996].
Mais textos de Simone de Lima
Parabéns por ter o primeiro texto publicado no blog minha amiga.Nada mais justo.
CurtirCurtir
Obrigada meu amigo Joelson!
CurtirCurtir
Parabéns minha Flor, ficou ótimo!!!
CurtirCurtir
Quer dizer que para Florestan Fernandes não haveria pensamento racional sem o desenvolvimento de uma sociedade de classes? Pensei que esta pudesse ser uma das condições, mas o texto parece indicar que seja a única, como se o tipo de estímulo proporcionado por aquela forma de estratificação não pudesse ser repetido por outra.
CurtirCurtir