Educação para a cidadania: repensando o espaço escolar e seus atores sob a ótica de Juan Delval

Juan Delval em seu livro ‘Manifesto por uma escola cidadã’, de 2006, abre uma discussão sobre o papel da escola, bem como sobre a formação dos alunos e dos professores frente aos problemas e questões socioculturais que aparecem e se transformam constantemente em nossa sociedade.

A mudança na formação dos alunos e dos professores só seria provocada por transformações na organização da escola e não reduzidas ao papel dos próprios professores, esses que devem possuir uma função mais ampla do que a transmissão de conteúdos e de dar ‘sermões’ aos alunos, a fim de os tornarem apenas bons alunos e receptores de mensagens.

Essa formação, no entanto, estaria voltada para transformá-los em cidadãos. Mas como isso seria possível em nossa educação escolar? Para Delval (2006), novas questões ou novas situações devem ser abordadas nas escolas, mas não em forma de disciplinas curriculares, e sim, inserindo em sua própria organização e sugerindo novas formas de tratamento de disciplinas já existentes.

Temas como a sustentabilidade ou educação para o desenvolvimento sustentável, educação nos direitos humanos e convivência com as culturas e/ou a interculturalidade seriam importantes nessa formação, conforme Delval (2006). Estes temas não seriam identificados como novas disciplinas, mas como temáticas ou problemáticas que merecem uma atitude diante dos problemas humanos, de maneira a encará-los e procurar resolvê-los através de atividades preparatórias no espaço escolar.

Diante disso, a visão de Delval (2006) é que não se pode esperar que os alunos do ensino fundamental ou do ensino médio compreendam tais problemáticas, mas essa deve ser uma preparação desde as primeiras séries e sempre presentes nos discursos dos professores em sala. Essas atividades preparatórias ainda deveriam ser iniciadas desde a pré-escola, prosseguindo durante toda a formação do aluno, perpassando o ensino fundamental, médio e superior.

Porém, a formação escolar para Delval (2006) é em nossa sociedade o método mais eficaz para melhorar a consciência cidadã, seja em relação ao desenvolvimento sustentável, seja para com a interculturalidade ou outras questões sociais e culturais que um dia os indivíduos irão se deparar na vida. E por essa razão este autor acredita ser importante trabalhar na escola várias problemáticas e questões que retratam a nossa sociedade, pois este é também um espaço de transmissão de valores, costumes, comportamentos e pensamentos científicos que devem ser reconhecidos e respeitados.

Contudo, numa sociedade em que os alunos estão também sendo formados por outros meios, como por exemplo, a televisão e outros meios de comunicação, para Delval “a escola não pode estar centrada em si mesma” (2006, pag. 119). Cabe à ela a sua tarefa de produzir, ensinar, bem como desenvolver a criação e analisar a realidade criticamente, sendo os meios de comunicação e sua influência temas também a serem abordados e debatidos com mais frequência na escola.

Em suma, a escola deve ensinar ao aluno a viver e conviver, buscando propiciar sua inserção no mundo social e na vida democrática. Nestes termos, o papel do professor deve ser distinto do papel tradicional, sendo tarefa do aluno pesquisar, levantar problemas e tentar resolvê-los, estabelecendo os professores às condições necessárias para que os seus alunos aprendam e reflitam criticamente a realidade social.

REFERÊNCIA

DELVAL, J. Manifesto por uma escola cidadã. Campinas, S.P: Papirus, 2006.

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2 Comments

  1. Parabéns Jéssica Ferrer, sem sombra de Duvidas é maravilhoso esse pensamento do Juan Delval, muito bom mesmo!

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