Florestan Fernandes e o dilema educacional

Considerado um dos maiores autores nas Ciências Sociais do Brasil, Florestan Fernandes, patrono da sociologia brasileira se destaca por seu alto nível de produção acadêmica e de apreciação científica, onde observa e analisa a realidade brasileira com um senso crítico e militante. Suas produções são datadas a partir dos anos 40 onde podemos destacar como obras de profunda relevância. Dentre elas citamos: Organização social dos Tupinambá (1949), A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952), Mudanças sociais no Brasil (1960), A integralização do negro na sociedade de classes (1964) e A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação Sociológica (1975).

Em relação ao texto que nos deteremos, parte da obra Ensaios de sociologia geral e aplicada (p. 192-219), e publicado na década de 60, o autor destaca a relação presente entre os educadores e os cientistas sociais, mostrando seus pontos em comum e como a atuação cooperativa entre estes profissionais podem contribuir pararesolução do que denominou de “dilema educacional brasileiro”.

Para o autor o problema educacional no Brasil seria resolvido a partir de uma mudança social organizada. Daí a necessidade de um trabalho solidário entre os profissionais nas áreas de educação e ciência social. Diante disso, apresenta alguns aspectos deste “dilema educacional”: 1) “as instituições educacionais apenas satisfazem de forma parcial as necessidade escolares de setores semiletrados e letrados com características ou com aspirações urbanas, da sociedade brasileira”; 2) “como as instituições escolares brasileiras não se adaptam … elas se integram umas as outras como se constituíssem um super organismo autônomo”.

Diante disso, os cientistas sociais teriam o papel de contribuir, através da educação na formação e desenvolvimento do Brasil. E é através dessa atuação do cientista social que iremos perceber todos os traços da estrutura educacional; suas rupturas e inexistências e com isso entender como se dá a organização do sistema societário e como ele representa no cotidiano das pessoas.

O autor destaca a diferenciação entre o papel de atuação do cientista social e do assistente social, onde, este ultimo, teria uma atuação mais tecnicista da realidade. Ainda falando da atuação do cientista social para a educação destaca três itens importantes: 1) “contribuição na criação de tendências objetivas de percepção e de explicação dos problemas educacionais brasileiros” (p. 430); 2) “considerar o significado das contribuições dos cientistas sócias para a reconstrução do sistema educacional brasileiro”, ou seja, os conhecimentos especializados fornecidos pelos cientistas sociais aos educadores contribuem para possibilitar ao que o autor denominou como sendo a “reconstrução educacional” (p. 434).

O terceiro item destacado por Fernandes é considerar que esta tarefa especializada pode afetar na realização dos planos periódicos da referida “reconstrução educacional”, servindo para a intervenção e controle dos problemas educacionais. Sobre isso o autor destaque que os educadores mesmo tendo a percepção dos métodos e problemas dos cientista sociais, eles dependeriam deles para a elaboração do sistema de organização e controle dos problemas advindos da realidade educacional brasileira.

A partir das reflexões e direcionamentos destacados por Fernandes podemos notar como o papel social do sociólogo diante da esfera da educação é estabelecido. E assim como o autor se faz necessário a ocupação por parte destes profissionais deste espaço para que a educação venha a desenvolve e servir como forma de verdadeira formação cidadã vista e imaginada por Florestan Fernandes. Onde a Sociologia é vista como forma de controle e de mudança, mas também como forma de reconstrução a partir de mecanismos de intervenção no destacado dilema educacional brasileiro.

REFERÊNCIA

FERNANDES, Florestan. O dilema educacional brasileiro. In: PEREIRA, Luiz e FORACCHI, Marialice (organizadores). Educação e Sociedade: leituras em sociologia da educação. São Paulo, Editora Nacional, 1985, p. 414-441

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2 Comments

  1. Não conheço o texto diretamente, por isso aproveitei bastante a leitura. O dilema educacional, da maneira como ele entende, de fato é de explicação própria da sociologia. Mas a tarefa do sociólogo não é produzir um conhecimento cuja utilização prática não é dele? No entanto, os testemunhos que me chegam dizem que essa apropriação não existe. Quando o sociólogo está num projeto social precisa defender até perspectivas morais, como a tolerância de gênero e o relativismo cultural. E só ele entende de sociologia! A concepção “cientificista” do conhecimento falha diante dos fatos. Por isso concordei com a perspectiva de Florestan Fernandes.

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