A emergência da nova sociologia da educação

Esse trabalho tem como objetivo apresentar as condições sócio-históricas e alguns avanços teóricos que possibilitaram o surgimento da Sociologia da Educação, considerando as principais influências teóricas e as diferentes interpretações que surgiram acerca do processo educativo.

Contexto histórico do Surgimento da sociologia da educação / paradigma da reprodução.

Após a segunda guerra mundial, o mundo passou por um período de vultuosos investimentos e grande crescimento econômico, impulsionado pela reconstrução dos países que foram diretamente atingidos pela guerra. Esse processo só começou a desacelerar trinta anos depois, com a recessão econômica da década de 1970.

Este rápido e intenso ciclo de prosperidade também repercutiu nos investimentos educacionais. Houve, nesta época, uma forte ampliação do aparelho escolar, inclusive com a universalização do acesso ao ensino secundário, motivada pela rapidez dos avanços tecnológicos.

A necessidade de formação de quadros técnicos e burocráticos para administrar a grande máquina em que se transformava o sistema escolar necessitava cada vez mais de um aprofundado conhecimento acerca da população escolar por parte do estado para a elaboração e planejamento de políticas públicas, incrementando, assim, o financiamento em pesquisa educacional.

Nesse contexto de crescimento e ampliação dos gastos públicos com escolas e universidades, a sociologia da educação se desenvolveu, já com o fomento dos financiamentos para pesquisa e o surgimento de várias disciplinas nas universidades voltadas para a sociologia da educação.

Criou-se, portanto, uma grande demanda de mercado para profissionais que pensassem o sistema escolar, multiplicando, consequentemente, o número de pesquisadores que se dedicaram a este campo de pesquisa – A sociologia da educação.

Essa primeira geração de sociólogos da educação, influenciada pelo funcionalismo americano, dedicou-se em suas pesquisar a investigar as disparidades educacionais entre os grupos sociais face aos sistemas de ensino.

A preocupação central desses sociólogos era não explicar, mas demonstrar as fontes institucionais da desigualdade escolar, visando, basicamente, calcular as chances que tinham as crianças de diferentes origens sociais de vencerem as barreiras do sistema escolar e atingirem graus superiores de escolaridade.

Tal estudo empírico da realidade escolar ficou conhecido com o nome de aritmética política, pois se resumia a um levantamento detalhado da evolução escolar, assumindo a forma de uma demografia escolar, a qual procurava responder basicamente por meio de dados estatísticos as perguntas: “quantos eles são?” E “quem são eles?”.

Segundo Isambert-Jamati (1974, apud NOGUEIRA, 1990) Através de descrições estatísticas (à maneira dos demógrafos), objetivava-se conhecer as condições de seleção e de freqüência ao sistema escolar, e os mecanismos de orientação no interior dele. Para isso, tratou-se de relacionar o lugar ocupado pelo educando no aparelho escolar (grau, tipo de estudos, estabelecimento etc.) com uma série de variáveis tais como: idade, sexo, tamanho da família, ordem de nascimento no conjunto dos irmãos, ocupação e nível de escolaridade dos pais, habitat, desempenho escolar anterior etc), estabelecendo pioneiramente na França um estudo da “estratificação social das escolaridades.”

Esses longos estudos passaram a ser registro importante que mais tarde servira de amostra para a NSE que passaram a criticar essa forma de abordagem do problema.

[…}a importância da pesquisa empírica dos anos50/60 para a elaboração desta sociologia da reprodução. Sem os latos estatísticos estabelecidos nesses anos, a existência dessa última seria mesmo impensável. (Nogueira, 1990)

A emergência da nova sociologia da Educação

Surgimento:

A nova sociologia da educação ou sociologia do currículo surgiu a partir da critica aos funcionais estruturalistas que, preocupados na cientificidade e legitimidade de seus estudos, fugiram das grandes narrativas teóricas.

Ao mergulharem-se em seus estudos demográficos e nos grandes levantamentos de dados com caráter descritivo, os funcionais estruturalistas se foram incapazes de explicar o fracasso das reformas e iniciativas educacionais promovidas pelo governo com base em seu estudo de equidade educacional.

Esse fracasso das políticas públicas que tinham a finalidade de diminuir a disparidade escolar lançou serias dúvidas quanto a validade da fundamentação teórica dessas iniciativas.

Por conseguinte, começaram a ser contestada não só pelas novas correntes teórica, como também pelos grandes movimentos de contra cultura, que passaram a contestar o conhecimento escolar a partir do fracasso deste, gerando descrença na promessa de que a escolaridade traria uma maior equidade social.

Influencia teórica:

Essa nova sociologia da educação foi influenciada, principalmente, pelas correntes teóricas interacionista, pela fenomenologia social, pela sociologia do conhecimento e pela antropologia cultural.

Enquanto a tradição anterior enfatizava relação macroestrutural, a NSE era imbuída de uma concepção do homem como ator social e focava-se num contexto interacionista de seus conteúdos.

A principal critica da nse fazia a essa sociologia da aritmética era que ela se concentrava nas variáveis de entrada (classe social, renda e situação familiar) e nas variáveis de saída ( resultados dos testes escolares, sucesso ou fracasso escolar) deixando de problematizar o que ocorria entre esses dois pontos.

Na perspectiva de uma reflexão sobre fatores culturais da educação, essa nova tendência teórica refletia-se, principalmente, sobre três aspectos da interação na escola: as interações na sala de aula, as categorias mentais dos professores e os saberes escolares, com ênfase maior nesse terceiro aspecto.

O principal objetivo dessa nova tendência teórica era investigar: como os saberes e os conteúdos simbólicos eram transmitidos pelo ensino; o modo como a sociedade seleciona, classifica, distribui, transmite e avalia o saber escolar; como se dar a distribuição do poder em seu interior e a maneira como se perpetua o controle social.

Por representar o conjunto de experiência de conhecimento que a escolar oferece, é que se define a NSE como objeto de estudo no currículo, pois percebe-se o currículo não como um elemento neutro de transmissão do conhecimento, mas como instrumento de seleção e organização do conhecimento disponível que reflete a distribuição em uma sociedade. O currículo escolar corresponde a uma seleção de conhecimento socialmente valorizado pela sociedade.

O processo de fabricação do currículo não é um processo logico, mas um processo social, no qual, convivem lado a lado com fatores logico, epistemológico, intelectuais, determinantes sociais menos “nobres” e menos “formais” tais como interesses, rituais, conflitos simbólicos e culturais, necessidades de legitimação e de controle, propósitos de dominação dirigidos por fatores ligado a classe, à raça, ao gênero. O currículo não é constituído de conhecimentos válidos, mas de conhecimentos considerados socialmente válidos.(SILVA, 2005)

Para que servem as escolas? Tensão entre os objetivos da emancipação e da dominação

Outra discussão posta em bastante evidência pelos movimentos de esquerda foi o próprio questionamento “Para que servem as escolas”?

Tendo por muitas vezes uma visão negativa da escolaridade. Por esta ter a função primordial na sociedade capitalista de ensinar a classe trabalhadora, questionava-se qual era o seu lugar.

A questão expressava tensões e conflitos de interesses na sociedade entre os objetivos da emancipação e da dominação.

Essa luta pelos propósitos escolaridade veio a questionar a própria validade do conhecimento, pois a escola era vista por esses movimentos como um canal de transmissão da ideologia da classe dominante.

Então vem o segundo questionamento, se o conhecimento é construído socialmente, qual é o conhecimento valido a ser ensinado na escola?

Segundo Bernstein o conhecimento que tem que ser transmitido pela escola, deve ser um conhecimento poderoso que distingua do conhecimento dos poderosos.

Já que o conhecimento dos poderosos não se refere a quem tem mais acesso ao conhecimento ou quem o legítima, mas refere-se ao que o conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explicações confiáveis.

A escola teria como função primordial transmitir conhecimentos que para maioria deles não podem ser transmitida em casa pelo seu nível de complexidade e sistematização. Sendo o conhecimento cientifico o mais confiável a ser transmitido.

Para Forquin:

Os saberes escolares se opõem, nesse sentido, tanto aos saberes “de iniciação” e esotéricos, que são transmitidos em segredo e que constituem monopólio de certos grupos fechados, quanto aos saberes puramente práticos, transmitidos por imitação ou impregnação, sem necessidade da formulação explícita, como ainda aos saberes triviais, aleatórios e fragmentados, ligados aos contextos imediatos e às circunstâncias da vida comum. Os saberes escolares são essencialmente gerais ou dotados de um alto nível de generalidade.organizadores e integradores, “saberes esquema”, mais que em saberes factuais ou pontuais, ela é uma cultura aberta, flexível e capaz de se estender infinitamente.(SILVA, 200)

Conclusão

O sucesso dos alunos depende altamente da cultura que eles trazem para a escola. Culturas de elite que são menos restritas pelas exigências materiais da vida, pois são maiores as competências intelectuais para assimilarem conhecimentos mais gerais para as crianças de lares desfavoráveis.

O sistema escolar é o único meio das crianças de adquirirem conhecimento poderoso, por isso o conhecimento transmitido na escola não pode estar submetido as suas experiências, pois as culturas que essas crianças trazem para a escola são cultura desfavorecida e subornadas a dominação de classe.

Portando, não a nenhuma utilidade para eles em construir o currículo com base em suas experiências, contudo o resultado desse currículo é condená-los a viverem nas mesmas limitações intelectuais.

REFERÊNCIAS

FORQUIN, Jean-Claude (1993) Dois pontos de vista oposto sobre a escola e a cultura: Raymond Williams e Bantock. In: Escola cultura: As bases sociais e epistemológico do conhecimento escolar. Porto Alegre, Artmed. P. 29-54

FORQUIN, Jean-Claude (1993) Escola e Cultura: As bases sociais e epistemológico do conhecimento escolar. Porto Alegre, Artmed. Parte II (“Novo sociologia da educação”, Currículo e Cultura). P. 67-120.

MOREIRA, Antonio Flavio B. (1990) Sociologia do Currículo: origens, desenvolvimento e contribuição. In: Em Aberto. Brasília, ano 9. N. 46. Abriu/Jun.

NOGUEIRA, Maria Alicia (1990) A sociologia da educação no Final dos anos 60 /inicio dos anos 70: o nascimento do paradigma da reprodução. In: em Aberto. Brasília, ano 9.

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2 Comments

  1. O sucesso dos alunos depende altamente da cultura que eles trazem para a escola. As competências intelectuais são as maiores bases para assimilarem conhecimentos para as crianças de lares desfavoráveis.

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  2. A cultura que vem de casa é uma bagagem muito importante para o desenvolvimento escolar. As crianças que tem uma família que não favorece para o seu desenvolvimento intelectual dependem muito de uma base estrutural para o seu desenvolvimento.

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